Quantas vezes você se perguntou onde estava, ou como
tinha chegado até ali?
Eu nunca tinha me perguntado isso, eu sabia quem eu era,
onde estava, e tinha certeza de onde o futuro me levaria. É aquela certeza da
infância que te acompanha nos primeiros momentos da sua vida. A certeza de que
seu futuro será brilhante seja qual for a sua escolha. A certeza de que não
cairá. De que não chorará. De que nada lhe fará com que perguntas sem respostas
rondem sua mente sem sequer uma trégua.
Isso tudo parece besteira e eu deveria saber. Eu deveria
imaginar que viver não é tão simples quanto esperamos que seja, mas aquela
inocência da infância que vai embora a partir do momento que um sentimento
grande demais, e problemático demais resolve tomar seu corpo e te transformar
em uma pessoa completamente perdida e transtornada.
Eu sempre andei tão perto dele, desse sentimento cheio de
altos e baixos e de indecisões e certezas. Eu cresci com ele. O observei. O
admirei. O desejei. O amor é sempre tão lindo quando o vemos concretizado, é
sempre tão especial quando somos frutos dele, é sempre tão sedutor que acabamos
por cair em sua armadilha sem nem mesmo entender o motivo. E eu estava andando
tão perto, tão perto que eu caí. Caí nessa sensação estranha que faz com que o
coração bata mais rápido e mais lento ao mesmo tempo. Caí nesse sentimento que
infiltra a pele, corrói ao pouco e no fim no leva a loucura.
É essa sensação de está enlouquecendo, às vezes, até
morrendo aos poucos. A cada momento em que poderia terminar da forma esperada,
mas que no fim é concretizado apenas as mesmas palavras vazias e sem sentido
algo. Palavras que me dizem que em breve vou ficar com a mesma expectativa, com
a mesma sensação de que algo mais irá acontecer, com a mesma vontade de fechar
os olhos e viver o sonho de sentir que o amor não é uma coisa ruim. E sentir
tantas coisas assim faz com que minha alma se canse, se fragilize, faz com que
minha alma não aguente e escorras as cicatrizes em formas de lágrimas sem
sentido que escondo de todos e as vezes até de mim.
Talvez você só tenha me pegado de surpresa. Talvez você
não perceba no poder que tem sobre mim. Talvez seja apenas o fato de que
estivemos sempre juntos, sempre perto, sempre unidos. Talvez tenha acontecido
na primeira vez que reparei em seus olhos. Um feitiço desses que a gente não
aprende nem mesmo nas aulas. Nem mesmo nos livros. Nem mesmo na vida. Um
feitiço único, e especialmente criado para me conquistar, para me fazer perder
o restante de juízo que podia afirmar que tinha.
Sabe qual é o problema do amor? Ele é contradição atrás
de contradição. Porque ao mesmo tempo em que ele mata aos poucos aquele que o
sente intensamente ele também é vida. Uma vida dessas que te toma por completo
e que faz seu sangue correr pelas veias o mais rápido possível. Uma vida que
faz com que as bochechas se corem, que faz com que os olhos brilhem e um
sorriso insista em brincar em seus lábios. Uma vida que te obrigada a disfarçar
quando todos perguntam por que está sorrindo atoa, uma vida que faz com que
você minta sempre que te perguntam se está apaixonada.
Muitas vezes uma vida
que te obriga a mentir até mesmo para si mesma. Sabe qual o problema do amor?
Ela faz com que exista uma vida dentro de mim que me faça sentir que preciso de
você.
E essa é a única coisa que me leva onde eu nunca estive.
Me leva até jardins infinitos, me leva até estrelas infinitamente brilhantes.
Me leve aos seus lábios, aos seus braços, me leva até um futuro imaginado. Me
leva a sonhar dormindo e acordada. É isso que me deixa com os olhos vagos, com
a mente distraída, com a boca cantarolando letras que realmente nem chego a
conhecer. É isso que me leva a ser a cada dia mais e mais eu mesma...
E eu não me importaria de perder tudo que conheço. Não me
importaria de perder até mesmo o que eu ainda não cheguei a conhecer. Não me
importaria com mais nada, porque eu sempre tenha a certeza de uma coisa, não
importa onde eu coloque minha cabeça hoje à noite os seus braços serão como uma
casa... São como uma casa...
E com certeza está vida não é o conto de fadas que nós
dois pensamos que seria. Quando deitávamos na grama e ficávamos tentando contar
às estrelas que o céu possui, quando as noites de verão eram quentes e tinham
cheiro de flores recém-nascidas. Nosso conto de fadas era formado por personagens diferentes. Você não era meu príncipe perfeito, aquele que chegaria
e me daria flores coloridas e me diria que eu era a garota mais bonita de todo
o planeta. E eu não era a sua princesa, aquela que você jurava que nunca iria
existir, afinal casar é para os fracos e você via como seu pai sofria. Nós
riamos. E eu posso ver seu rosto sorridente como se fosse para mim, como se
estivéssemos de volta aquele tempo.
Sei que não faz tanto tempo assim. Sei que eu estou sendo
dramática, você sempre disse isso de mim. A garota que detesta sangue, que não
é boa com feitiços, que sempre gostou de ficar horas e mais horas sem fazer
nada, apenas sonhando com o futuro. Apenas narrando certezas. Certezas que
evaporaram como fumaça. Eu sei que nós dois vemos estas mudanças agora... Eu
cresci, não tanto quanto você, mas agora não somos aquelas duas crianças que
passavam o tempo todo juntos, que brincávamos como se não houvesse amanhã, que
tínhamos quase os mesmos sonhos. Eu sei que nós dois entendemos de alguma
forma... Entendemos que mudamos, entendemos que talvez os sonhos da infância
sirvam apenas para isso, para ficarem na infância. Entendemos que pode ser que
não sejamos nós, que sejamos apenas eu, e apenas você. De lados opostos. E ainda
assim lado a lado como sempre foi.
E ainda assim há uma vida em mim, e ainda sim ela me leva
a lugares em que nunca estive. E eu não me importaria em perder tudo, e eu não
me importaria em ficar com você até o fim. E não importa qual seja a realidade,
qual seja a situação. E não importa onde eu coloco minha cabeça, hoje à noite
seus braços serão como uma casa. Eles são como uma casa...
Da sua amiga, prima, confidente, e para sempre...
— Lily, o que está fazendo? Estamos te esperando.
A voz dele fez com que ela se assustasse e fechasse o
caderno onde escrevia sem nem mesmo terminar de assinar. Seu quarto tinha uma
escrivaninha que ficava de frente para a janela, assim ela sempre podia olhar
as estrelas e o céu. Coisas que nunca deixavam que ela se esquecesse dele.
— Só estava olhando o céu.
— Tentando contar as estrelas ainda? Sabe que eu venci da
ultima vez, cheguei ao número impressionante de 999 estrelas, sem repetir
nenhum.
— Como se 999 seja um numero tão grande e excepcional. —
Lily deu de ombros quando o caderno em uma das gavetas da escrivaninha.
— Sim é, e você sabe disso.
— Hugo, por favor... Eu mesma já consegui mais de 100.000.
— Lily Luna Potter você é tão mentirosa. — O ruivo disse
rindo.
— Vamos logo antes que minha mãe calma e paciente venha nos
chamar. — Lily disse dando de ombros e finalmente andando na direção do primo.
Quando já estava perto da porta ouviu ele novamente falar.
— Não acredito que fez isso.
— O que eu fiz Hugo Weasley?
— Não me cumprimentou como deveria. — Ele a abraçou
retirando ela do chão. Os abraços que ela tanto gostava. O abraço que fazia com
que ela ficasse com o perfume dele guardado com ela por dias.
— Já chega... — Lily disse um pouco atrapalhada e quando
saiu do abraço quando escorregou no tapete que tinha na porta de seu quarto com
os dizeres “Se você não for nem James e nem Alvo será muito bem vindo”.
— Sempre a mesma Lily. — Hugo riu a segurando antes que
caísse.
— Sempre o mesmo Hugo. — Ela disse se apoiando nele como
quando eram crianças e ele a ajudava a se levantar dos milhares tombos que
levava.
Tinha se tornado uma tradição muito esquisita entre todos os
primos da família Weasley, acampar uma vez por ano para recordar as férias na
Toca, como se eles não continuassem passando a maior parte de seus tempos
livres exatamente no mesmo lugar. Mas nunca se podia quebrar a tradição. Lily
estava acostumada com isso, todos estavam.
Então quando a noite estava mais escura, e as estrelas mais
brilhantes eles se encontravam no quinta com barracas armadas, com fogueira
acesa, com risos e brincadeiras. Eles se encontravam todos juntos. Como na
infância.
Lily sentiu os braços lhe puxando para junto de seu corpo.
Hugo sempre fazia aquilo, a puxava para deitar sobre seu peito enquanto a
abraçava, e eles ficavam ali deitados vendo as estrelas como se ainda tivessem
sete anos de idade. Como se nenhum sentimento existisse dentro dela.
— Sempre juntos. — Hugo disse sorrindo para o céu.
— Hoje à noite seus braços são como uma casa... — Lily
suspirou em voz baixa as palavras que estavam lá
no seu caderno trancado em uma
gaveta vazia.
— O que disse? — Ele se virou para encará-la.
— Que deveríamos começar a contar as estrelas. — Lily sorriu
nervosa.
— Hoje não... Hoje vamos apenas ficar olhando para elas,
como se tivéssemos voltado.
— Voltado para onde?
— Para a nossa casa... — Hugo sorriu. — Para o lugar onde as
certezas nunca se transformavam em dúvidas.
— Para nossa infância. — Lily suspirou encostando a cabeça
no peito do primo.
— Você ainda é a garota mais linda do planeta, mesmo que
nenhum príncipe tenha aparecido.
— Talvez ele tenha aparecido e dito isso, mas ele nunca vai
se casar não é mesmo? — Laly riu.
— Todas as certezas agora são dúvidas. — Hugo suspirou.
— Ainda temos uma certeza Hugo...
— Temos?
— Sempre juntos... — Lily sorriu para ele dando o dedinho.
— Sempre juntos Lily... — Ele respondeu dando o dedinho para
ela.
Ps.: E eu sabia que hoje à noite seus braços seriam como
uma casa. Sempre juntos Hugo. Sempre juntos.
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